Alabama 2024

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A Suprema Corte do Alabama ao final de fevereiro de 2024 equiparou os direitos que os nascituros gozam aos embriões.

Esse entendimento gera repercussões jurídicas em todos os sentidos, pois os embriões passam a ter o que no Direito chamamos de ‘personalidade jurídica’, passando a ser detentor de direitos da personalidade. Ou seja, têm direito a nome, a herança, aos direitos individuais, direitos sociais, direitos difusos e coletivos, abarcando, especialmente, o princípio da dignidade da pessoa humana.

De forma prática, os embriões poderão processar os donos desse material genético para nascerem ou não nascerem, desde que tenham a devida representação legal e processual. Uma mulher poderá ser obrigada a gerar aquele embrião ainda que essa gravidez apresente um risco à sua vida.

Sem dúvidas a medicina reprodutiva é a mais afetada por esse entendimento da Suprema Corte. Tanto é que os Centros de Reprodução Assistida do Alabama pararam todos seus trabalhos para evitar repercussões legais mais gravosas, como, por exemplo, de uma acusação de homicídio quando da perda embrionária durante a manipulação para a realização do procedimento de descongelamento ou transferência embrionária.

Parece longínquo esse entendimento de apenas um Estado Norte Americano, mas essa poderá ser uma realidade no Brasil se o PL 478/2007, conhecido como Estatuto do Nascituro, passar a vigorar como Lei na forma que originalmente foi escrito.


 DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO E MORFOLOGIA

Vários sistemas de graduação são utilizados e baseados principalmente na velocidade de clivagem (velocidade de divisão celular), número e tamanho dos blastômeros (células) e na porcentagem de fragmentação dos embriões. Outros sistemas de classificação mais rigorosos, consideram também importante avaliar a multinucleação das células, as alterações extra e intracitoplasmáticas e o grau de interação celular. Para melhor entender o valor dos critérios morfológicos que norteiam a seleção embrionária para transferência, deve-se analisar detalhada e isoladamente cada parâmetro para assim, classificar o embrião como um todo, estabelecendo notas de acordo com o seu potencial. Vale lembrar que a classificação de embriões é um processo contínuo, que prioriza o histórico dos mesmos. Portanto, não é de uma avaliação isolada que se obtém uma classificação, e, sim, do conjunto de dias de cultivo analisados.

Vamos aqui avaliar alguns destes pontos:

CLIVAGEM

Clivagens são as várias divisões celulares que resultam em um rápido aumento no número de células ou blastômeros. Normalmente, no dia 2 de cultivo celular (D2) os embriões atingem o estágio de 4 células (Figura 1), e no dia 3 (D3) o estágio de 8 células (Figura 2).                

FRAGMENTAÇÃO

A fragmentação é um fenômeno observado tanto In Vitro como In Vivo, e parece ser um acontecimento natural durante o desenvolvimento embrionário. A interpretação do significado real da fragmentação celular para o potencial de desenvolvimento do embrião, passa pela observação de que não só a quantidade como também a distribuição (onde os fragmentos estão localizados) podem ser importantes na seleção embrionária. 
 
 
MULTINUCLEAÇÃO
 Embriões humanos que são cultivados In Vitro podem ter dois ou mais núcleos visíveis em um mesmo blastômero e o correto é que se tenha um núcleo em cada célula. Apesar de observada em um terço dos embriões e ser responsável por uma maior incidência de alterações cromossômicas (74,5%) quando comparados com embriões não multinucleados (32,3%), estes ainda podem ser viáveis. A multinucleação também está correlacionada com a diminuição da taxa de implantação e do desenvolvimento embrionário, levando consequentemente a uma menor taxa de formação de blastocistos. Além disso, alguns trabalhos mostram que a multinucleação está diretamente associada à idade feminina e à fragmentação embrionária.
Conclui-se então que independente da origem da multinucleação observada nos embriões, estes são considerados como de baixa capacidade de desenvolvimento.

ALTERAÇÕES EXTRA E INTRA CITOPLASMÁTICAS

ZONA PELÚCIDA

A zona pelúcida é uma glicoproteína que reveste o embrião e serve como barreira de proteção durante a implantação embrionária, além de preservar a estrutura tridimensional e a integridade do embrião. 

O afinamento da zona pelúcida inicia-se durante a primeira e a segunda clivagem e continua progressivamente até a formação do blastocisto. No entanto, esse afinamento não ocorre em todos os embriões, o que pode dificultar a implantação dos mesmos. 

Alguns embriões podem adquirir uma alteração na coloração da zona pelúcida, sendo marrom-amarelada ou marrom escura, e são candidatos a serem submetidos ao Assisted Hatching (abertura forçada da zona).

Os embriões podem ter zona pelúcida com formatos bem estranhos como: ovalados, vírgula, ampulheta, entre outros. No entanto, quando estas formas aparecem, a capacidade de formar blastocistos ficam bastante reduzidas devido à dificuldade de interação entre os blastômeros. 


VACUOLIZAÇÃO

A vacuolização geralmente indica um prognóstico ruim para o desenvolvimento ideal do embrião. No entanto, os vacúolos pequenos, são bastante comuns e podem não interferir no potencial embrionário, enquanto os vacúolos grandes são prejudiciais e contribuem para a diminuição no desenvolvimento do embrião. 

 

  Vale a pena ressaltar que muitas outras características podem ser incluídas e avaliadas quando presentes, podendo alterar a nota do embrião. A decisão de possuir uma classificação mais rigorosa e completa na rotina do laboratório varia de acordo com a experiência dos embriologistas que devem fazer esta avaliação em um menor tempo possível para não expor os embriões a um stress desnecessário. 


E para o Blastocisto? Como é dada a nota?

Através da graduação morfológica que avalia a expansão da blastocele, a morfologia do trofoblasto (TF) e da massa celular interna (ICM) e que tem a vantagem de não ser invasiva, ser rápida, com possibilidade de homogeneização entre os embriologistas, ter baixo custo e boa correlação com as taxas de gestação. (Figura 1)

Durante a formação do blastocisto ocorre a expansão gradual da blastocele e as células do trofoblasto tornam-se elípticas e polarizadas, enquanto as células da massa celular interna permanecem arredondadas e morfologicamente indiferenciadas. O trofoblasto prolifera mais rapidamente que a ICM e possui o dobro do número de células no começo da cavitação em D4, enquanto que a ICM terá o dobro de células apenas em D5 e D6. O blastocisto humano possui mais de 60 células no D5, cerca de 160 células em D6, e mais de 200 em D7 após o hatching.



 

Figura 1

(A) Blastocele: Acúmulo de água que flui para a 

cavitação ou cisto decorrente desse acúmulo; 

(B) ICM: Grupo de células que dará origem ao embrião 

propriamente dito, localizada no pólo embrionário;

(C ) Trofoblasto: Responsável pela formação fetal da placenta

está dividido morfológica e funcionalmente em trofoblasto

mural (circunda a cavidade blastocélica) e trofoblasto polar

(recobre a massa celular interna);

( D) Zona Pelúcida: Glicoproteínas que circundam o blastocisto.

 

1. A cavidade do blastocisto (blastocele) é avaliada a quantidade e o tamanho de células, bem como a espessura da Zona Pelúcida. A isso pode se dar um nome ou um número dependendo da classificação adotada.

  • 1 ou Cavitando 
  • 2 ou Blastocisto Jovem 
  • 3 ou Blastocisto Completo 
  • 4 ou Blastocisto Expandido 
  • 5 ou Blastocisto Hatching 
  • 6 ou Blastocisto Hatched 



2.  A Massa celular interna também pode ser dada uma letra ou número

A- Muitas células compactadas/ proeminentes, facilmente perceptíveis e com muitas células compactadas.

B- Diversas células frouxas/ facilmente perceptíveis e com muitas células, mas pouco agrupadas.

C- Poucas células / dificilmente perceptível e com poucas células.


3. Trofoblasto também pode ser dada uma letra ou número

A- Muitas células formando um epitélio coeso

B- Diversas células aumentadas em seu tamanho formando epitélio frouxo

C- Poucas células muito largas


O desenvolvimento dos blastocistos é influenciado tanto por fatores inerentes aos pacientes, como qualidade do sêmen e idade materna, como aos associados a fatores precoces de desenvolvimento. A classificação morfológica dos embriões no dia 2 e 3 de cultivo, assim como os gametas e zigotos que os formaram, pode predizer a formação de blastocistos. 


E quais as perguntas mais comuns?

1) Ter nota alta significa ser normal?

 Não. A qualidade não prediz normalidade.


2) Ter nota baixa significa que a gestação não ocorrerá?

Embriões com notas baixas são viáveis. Implantam em menor quantidade, mas implantam.


 

 

 

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